quarta-feira, 20 de julho de 2016


EPÍLOGO

Com a cabeça apoiada em suas mãos recordava os momentos em que tinha sido feliz a seu lado. Ainda o amava ou simplesmente gostava de pensar que sim? Gostava da ideia de amar e ser amada, mas o que tinha não seriam apenas sombras de um passado não muito distante? Não sabia, procurava a resposta no seu íntimo e não encontrava a resposta. Era muito cobarde para dar um novo rumo à sua vida. Sentia-se menina e velha ao mesmo tempo. Velha para recomeçar, menina com medo de começar.
Tinha-lhe pedido, implorado, chorado, gritado que largasse aquele vício que o consumia e que os afastava. Acreditou demasiadas vezes nas suas promessas quebradas precocemente. A cada promessa uma esperança que se desvanecia com dor e amargura.
Pensou, idealizou que o seu amor seria mais forte que todos os vícios. Acreditava que o amor redimiria tudo e tudo venceria. Enganou-se uma e outra vez. Desesperada via os dias sucederem-se e nada mudava. O seu vício pelo álcool era mais forte que tudo. Mais forte que o seu amor-próprio, mais forte que todos os argumentos, mais forte que a sua própria vida agora frágil, mais forte que o amor que dizia sentir.
Com a cabeça repleta de dúvidas e o coração pejado de dor olhava-o e não compreendia. Não poderia compreender nunca.  
O que lhe restava? Desespero, amargura, tristeza? Uma mão-cheia de recordações doces? Não, não lhe restava nada. Sentia-se impotente nessa luta desigual que travou demasiado tempo, anos perdidos e ensombrados pelas constantes recaídas, pelas depressões que duravam meses e onde o sol raramente brilhava. A cada recaída era pior. A cada recaída o levantar-se era mais difícil. Tinham tido tudo. Uma vida plena, feliz, repleta de cumplicidades. O álcool fora uma constante ao longo dos anos em que estavam juntos. Antes mesmo até. Ela não ligou no início. Mas com o passar dos anos percebeu que num casamento não há lugar para 3. Um estava a mais. Era ela.
Demorou a consciencializar-se que quem estava a mais era ela. Não conseguia aceitar essa realidade. Pensou que com ela seria diferente. Nunca o é.
Levantou-se e com o coração partido em mil pedaços, saiu. Ele ficaria certamente triste, mas rapidamente afogaria as suas mágoas como sempre o fizera. Com ou sem mágoas. Não precisava de motivo. As coisas eram mesmo assim.
Estava na hora.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

ESPEREI-TE

Esperei-te,
E enquanto esperava, recordava,
Enquanto recordava, olhava.
Olhava e via
No tumulto das minhas lembranças
Revivia os sorrisos, os risos,
As mãos dadas, os abraços, os aconchegos,
As crises, os beijos da reconciliação...
E esperava-te...
Tal como todos os dias te esperei
Com o coração inquieto,
Repleto de dúvidas e esperanças....
Era mais um dia em que te esperava.
Nunca mais chegavas....
Inquietei-me...

Como o meu Sol apareceste,
Deste-me a mão e percebi
Que estavas aqui,
Como sempre, para sempre.
O(s) nosso(s) tempo(s)





Se vivesses no meu tempo
Ou eu vivesse no teu
Tudo seria diferente

Vivemos em realidades paralelas

O meu tempo já foi
O teu ainda será
Os nossos tempos desencontrados pelo tempo
Nunca se tocarão

Os nossos tempos são assim, distantes e paralelos
Paralelos até ao infinito

Se pudesse voar no tempo
era para ti que eu voava...
Para o teu sorriso quente,
Para o aconchego da tua alma de poeta
Repleta e incompleta


Mas não posso

O meu tempo já passou


Os nossos tempos são assim